À medida que o Brasil se prepara para sediar a COP 30, marcada para novembro de 2025 em Belém (PA), cresce a atenção internacional sobre as soluções locais para os desafios da crise climática. E algumas das respostas estão surgindo longe dos grandes centros econômicos, nas mãos de empreendedores que aliam ciência, tecnologia e impacto socioambiental. É o caso das startups Recicli, em Sergipe, e Compensei, no Maranhão, que desenvolvem tecnologias voltadas à recuperação de metais nobres e à descarbonização.
Recicli: inovação profunda para recuperar metais preciosos e dignidade ambiental
Com base em Aracaju (SE), a Recicli nasceu com a missão de transformar pesquisa científica brasileira em solução de mercado. “Criamos a empresa para dar vida comercial a patentes que desenvolvemos na universidade, mas que nunca sairiam do papel no ambiente acadêmico”, conta o fundador Flávio Costa.
A tecnologia da Recicli é baseada em biolixiviação – um processo que usa microrganismos para extrair metais nobres, como ouro, prata e paládio, a partir de resíduos eletrônicos, baterias, escórias siderúrgicas e placas fotovoltaicas. A empresa também criou uma spin-off digital, a REEETurn, para facilitar a logística reversa de eletrônicos.
Já foram 30 toneladas de resíduos corretamente processados, e agora a tecnologia está prestes a ser lançada comercialmente com produtos como ouro reciclado. No entanto, o caminho não tem sido simples: “O ecossistema brasileiro ainda confunde inovação com digital e software. ESG real exige ciência, tempo e paciência – coisa que a maioria dos investidores locais não quer ouvir”, afirma Flávio.
A Recicli foi reconhecida no Startup Summit 2024, vencendo o Prêmio Sebrae Startups na categoria Meio Ambiente e Tecnologias Verdes – um incentivo que Flávio considera crucial. “O apoio do Sebrae nos ajudou a manter a empresa viva. Mas falta uma política nacional para inovação profunda. O Brasil ainda trata tecnologia como maquiagem.”
Compensei: descarbonização acessível e aplicada à realidade local
Em 2022, após anos atuando como consultora ambiental, a bióloga Vilena Silva decidiu fundar a Compensei ao se deparar com uma lacuna: pequenas e médias empresas, eventos e destinos turísticos estavam excluídos da agenda climática por falta de ferramentas simples, nacionais e acessíveis. “Descarbonizar não pode ser privilégio de grandes empresas”, afirma a empreendedora. A startup foi criada dentro do programa de inovação Startup Nordeste, promovido pelo Sebrae.
A Compensei criou uma plataforma própria que facilita a medição, redução e compensação de emissões de carbono, utilizando metodologias como o GHG Protocol e a norma ABNT PR 2060. Desde então, já descarbonizou mais de 40 eventos – incluindo 15 realizados pelo próprio Sebrae Nacional. “A parceria com o Sebrae foi essencial para transformar nossa ideia em solução de impacto real”, diz Vilena.
Mas, para a especialista, descarbonizar é mais do que métricas:
É sobre mudar cultura, engajar pessoas, gerar impacto socioambiental. A tecnologia só faz sentido se estiver alinhada à realidade de quem está na ponta.
Vilena Silva, bióloga.
Hoje, a Compensei atua também em projetos de turismo sustentável, como em Bonito (MS), onde capacita empresas da cadeia turística a operar de forma carbono neutro, gerando dados que são integrados à plataforma estadual ALUMIA.
Na COP 30, a startup quer mostrar ao mundo que o Brasil já tem soluções concretas e replicáveis. “Vamos apoiar eventos paralelos, ajudar a tornar experiências carbono neutro e levar nossos cases ao debate global”, antecipa Vilena.
Outras startups de impacto socioambiental podem ser acessadas na Vitrine Sebrae Startups, plataforma que permite que startups apresentem suas soluções a investidores, parceiros estratégicos e potenciais clientes. A plataforma oferece acesso direto a contatos e perfis, além de descrições detalhadas dos produtos ou serviços oferecidos.
